abril 25, 2006

Hoje

Não desejo recordar o que não vivi, disso nada sei. E o que me contam encaixa unicamente nos livros da História de Portugal, nas épocas da inquisição, nos tempos da ignorância.
Não me contem sobre o ontem, digam-me o que vão fazer amanhã porque é disso que eu quero saber.
Expliquem-me porque sou velho aos trinta, não me digam mentiras, digam-me a verdade. Expliquem-me porque me pagam parte do ordenado "por fora", não me digam que fui eu que aceitei, porque eu tinha uma casa para pagar. Expliquem-me porque "vi" assinar falsos contratos, não me digam que o "não" se impunha, porque perante ameaça quase todos sucumbem. Não me digam que não denunciei, porque muitos tinham filhos para alimentar, casas para pagar, vidas a começar!


Digam-me se apenas querem recordar, o que estamos a festejar.
O escrever sem medo?
Pois vos digo que tenho medo!

26 comentários:

Nilson Barcelli disse...

A tua abordagem ao pós 25 de Abril é incisiva e mordaz. Mas verdadeira.
E é muito pertinente, dado que o regime não é bem uma democracia, mas antes uma democracia liberal onde o capitalismo selvagem dita as suas leis.
A fotografia, muito a propósito e condicente com o texto (igualmente mordaz), é óptima. Continuas em forma e a fazer coisas boas. E desta vez nem escreveste sobre ela?
Beijos querida amiga.

Thiago Forrest Gump disse...

Da censura?

Su disse...

belo post, coerente, lógico
digam-me.....é isso.....
há muita diferença entre o pensar e o fazer....
e temos feito muito pouco, os valores ficaram perdidos no tempo, o medo voltou.....resta.nos a liberdade de pensamente q sempre houve e fazer algo mais por nós mesmos
jocas maradas de tempo

Kalinka disse...

Minha Querida,
como as tuas palavras vieram de encontro ao que sinto e não tive coragem de escrever, daí que não fiz post nenhum dedicado ao 25 de Abril...
Quando li a tua 1ª frase, era como se fosse eu, a escrever, tiraste as palavras do meu pensamento. Quando isso aconteceu, eu não estava cá, nada vi, nada sei...

Não desejo recordar o que não vivi, disso nada sei...
Beijokas de compreensão.

Black Angel disse...

minha querida
abril sempre...
um post só digno de ti...

Brandybuck disse...

Eu ainda vivi antes do 25 de Abril de 74 e posso dizer que só o facto de aqui podermos deixar as nossas opiniões livremente, já é uma grande vitória, a que por vezes somos tentados a dar menos valor.

Talvez esteja na nossa mão contribuirmos para corrigir o que está menos bem. Nem que seja levantando aqui estas questões bem pertinentes.

Um beijo

Anónimo disse...

Não percamos a esperança!
Abril ainda é possivel.

Andy More disse...

Soltaram-se as amarras! Houve alguém que as rompeu para tu poderes escrever estas tão lúcidas, e amarguradas palavras, aberta e livremente? Hoje, infelizmente, já não são os homens que amordaçam outros homens. Mas a economia açambarcou todos os valores, morais, éticos e religiosos, onde o desenvolvimento é feito à custa da destruição de parte do meio ambiente, de parte das pessoas, de uma parte da ignorância dos homens? Mas, mesmo assim, sendo lúcidas as palavras do teu post, nunca poderá haver lugar para o medo. Medo de quê? Temer a morte antecipada? Quando se acredita na reencarnação? Ter medo que nos roubem, ou se fique sem emprego? O medo, é das maiores cobardias que o homem inventou, foi do medo que nasceu as guerras, desde sempre até aos nossos dias.
Recorda-se esta data porque foi importante ao teu povo, ao nosso povo. Da mesma maneira que se recorda o Natal pelo nascimento de alguém há dois mil e seis anos, quis salvar os homens dos seus pecados, e foi crucificado pelos nossos erros? Vais deixar de acreditar em Deus, só porque não estavas lá quando ele nasceu? Eu considero-me agnóstico, mas também não vou duvidar por causa disso, apenas não acredito como é contada?

Um beijo sem medos!
estou aqui: http://ababushka.blogs.sapo.pt/

Andy More disse...

O amanhã, só a Deus pertence! Até os não crentes acreditam, que é assim...

Klatuu o embuçado disse...

Machado!

lique disse...

Existe um ano inteiro para lutar contra o que é denunciado (e bem) no teu post. Só existe um dia para recordar o 25 de Abril e celebrar, sim!
Beijos

Carla disse...

Ando meio ausente das visitas diárias... mas deixo um beijo e votos de um bom fim de semana

Charlie disse...

Remeto-te como comentário algo que escreví ha´um ano sobre a liberdade:

A Liberdade.
Conheci a Liberdade pela altura 25 de Abril de 1974. Era na época militar por dever e durante algum tempo passei a sê-lo com gosto. Olhamo-nos nos olhos, sem nada dizer, e de imediato despertou em nós a ponte que liga os corações apaixonados. Ia no Metro para encontrar-me com amigos algures na zona de Entrecampos mas sai logo junto com dela nas Picoas. Era uma rapariga mais jovem que eu, todo ela, promessa de mulher. Não lhe disse nada nem ela me perguntou o que fosse. Entregámo-nos logo um ao outro e amámo-nos sem peias ou amarras, sem limites ou planos de futuro, com a sensação de termos atingido o momento definitivo das nossas existências.
Não estabelecemos compromissos nem alianças.
Não fizemos planos para o Futuro. Não lhe pedi juras de amor eterno nem lhe ofereci nada nem ela me deu mais em troca do que era uma dádiva mútua generosa e única. Bastava-me tão só te-la, a Liberdade.
Passeámos muitas vezes pelas ruas, e toda a gente olhava para nós. Sentia que todos amavam a Liberdade e que amavam o nosso amor. O tempo passou. O que era eterno e imutável passou a ser só um episódio das nossas vidas. Deixei de vê-la.
Troquei a Liberdade por outras paixões que me vieram cruzar o caminho.
As paixões foram sempre inimigas da Liberdade...
Há tempos atrás voltei a vê-la. Estava mais velha que eu. Chorei ao reencontrar-me com ela. Beijei-a e disse-lhe tudo o que me ia na alma. Mas ela secou-me as lágrimas e disse-me que fora sempre assim através dos tempos. A Liberdade será sempre a jovem generosa que trocamos por outros valores em maior ou menor grau. Contou-me as peripécias destes últimos anos. Do amor que dera a todos. Dos que quiseram apropriar-se dela. Dos que a maltrataram, dos que a quiseram acima de tudo e que por ela haviam dado a vida. Olhei os seus olhos cansados e revi-me no reflexo do seu brilho apagado. Olhamos um no outro durante uma eternidade enquanto ela afagava as minhas rugas.
Falámos um longo período, revendo rostos revivendo tempos...
Por fim disse-me que se ia embora. Ia talvez sair do País. Ia procurar um sítio onde estivessem ansiosos por ela. Lá talvez voltasse a encontrar numa paragem de Autocarro ou num Metro um jovem que a amasse eternamente. Despedi-me dela com um longo beijo.
Foi a última vez que vi a Liberdade....

Manuel Veiga disse...

Compreendo a tua amargura e o teu medo (quase me apetecia dizer o teu desespero). Acrescento apenas que o 25 de Abril foi uma revolução inacabada. Como mtos "mo(nu)mentos" da nossa História ...

"Um pouco mais de azul..." lá diz o Poeta...

convido-te a visitar

http://relogiodependulo.blogspot.com/

Daniel Aladiah disse...

Querida Ana
Nãoé de escrever que tens medo...
Um beijo
Daniel

luis manuel disse...

O medo do amanhã, sem a memória viva do ontem que me contam...
Não me digam o que vão fazer amanhã ! O que eu quero é dar voz á minha liberdade. Sem medo.
Ainda que eu saiba que gigantes me esperam enfurecidos, ameaçando quebrar esse meu direito.

"A liberdade é um combate interior" dizia Salgueiro Maia

Um abraço

Júlia Coutinho disse...

A Liberdade é um património que nos foi legado por Abril e que temos o dever de salvaguarda. Liberdade de pensar, de observar, de falar, de agir, de escrever, de amar, de viver !
É um bem precioso a que só não damos o devido valor porque ... o temos disponível! Mas como diz a canção do Zé Mário " ... o que eu andei p´ra aqui chegar ..." ou seja, o quanto tantos desbravaram para hoje a termos connosco !
Beijinho grande

Kalinka disse...

Passei para deixar um beijinho.
Encontrei o mesmo post de 25/Abril/2006.
Regresso outro dia, pode já haver post novo. Beijokas.

Andy More disse...

Eu sei que é teu lema não legar nada à pressa, eu sei que gostas de andar devagar mesmo quando estás com pressa. Mas gostava de ler o teu post de amanhã ainda hoje ? Porque o de ontem, já eu li e conheço bem!

Beijo querida Raquel
Bem Haja!

Conceição Paulino disse...

Minha "crida" menina-grande-mulher. Li-te na altura e chorei. Chorei convulsivamete pq te entendi muito bem, bem demais, pq senti e sinto o mesmo e sou da geração dos k lutaram e fizeram/tornaram possível o 25 de Abril.
Data a NUNCA ser perdida, nem admitir k a esqueçam.
Quem quiser entender veja os documentários da época, ouça e leia os testemunhos de milhares de estrangeiros k migraram para o "milagre da revolução" dos cravos.
O povo, feio cansado e bruto k parecíamos, floresceu.
Os sorrisos habitaram o nosso mundo e não só.
O mundo ficou + rico e essa riqueza tinha um nome: liberdade.
Liberdade conquistada e expressa com uma tal segurança e confiança no porvir k o grande capital mundial tremeu.
E os nosss políticos foram indo na onda. Aos poucos...
Uns + rápido do k outros.
Vi, estive, lutei, vivi.
Vi as pessoas a serem corrompidas.
Vi as almas a enegrecerem.
E chorei.
E tive k me afastar e durante anos, qnd ouvia A Grândola ou a Internacional, dos meus olhos saíam mares (era a dor convulsionada pelo k fora sonho e virava pesadelo. light, ilusoriamente light. MAS pesadelo).
Hoje vim aqui, já mais calma, "roubar-te o texto e a imagem e vou colocá-lo no http://estranhosdias.blogspot.com/
porque temos k olhar de frente os nossos actos, as nossas omissões os nossos silêncios e não deixar só esta pesada herança.

beijos de luz e paz, e de força e luta também.

Menina Marota disse...

Era ainda bebé, quando pessoas da minha família eram levadas porta fora, as suas casas devassadas, os seus escritos passados a pente fino, as suas estantes, completamente "demolidas"... só porque ousavam falar em certos escritores, que na época, não eram permitidos.

Em casa dos meus Pais, os livros proibídos chegaram a estar escondidos, debaixo do soalho, longe dos olhares indiscretos...

Vivi e convivi, com a palavra Liberdade no vocabulário que me transmitiram. E, onde o Sonho, comandava a Esperança...

Hoje, talvez tenha a Liberdade de escrever e ler o que quero...mas, posso dizer-te que já fui "saneada" por assumir publicamente as minhas convicções. Não desisti. Parti do zero e fui á luta, seguindo o meu próprio sonho.

Hoje, não abdico das minhas convicções de dizer, que o Sonho ainda comanda as nossas Esperanças, e que nada, nem ninguém me fará mudar.

Temos Liberdade de dizermos o que queremos? De dizermos que este País está mal? De dizermos, da corrupção que grassa em tantos sítios? Da lavagem ao cérebro que as Tvs fazem, ao consumismo, a notícias, desastrosas e mentirosas?

Ao desrespeito pelos direitos adquiridos, pelo direito à saúde, ao emprego, e a tantas outras coisas, que nem vale a pena referir?

Que Liberdade nos trnsmitem, afinal? Que exemplo para as gerações mais novas... (será que existirá geração mais nova?)

O passado... o futuro... que diferença terão, afinal?

Um abraço carinhoso ;)

Thiago Forrest Gump disse...

Raquel, tirou férias do blog?

Se sim, aproveita! Se não, retorna e força! :D




Um beijinho

Nilson Barcelli disse...



Para todos a quem interessar a informação:

A Raquel está sem net e esse é o motivo pelo qual ela não responde aos e-mails e não vem aqui.

Alien David Sousa disse...

Gostava de te poder ajudar, quanto às questões que colocas no teu texto, mas não consigo.
Quanto ao ter medo?? NÃO!O medo paraliza o cérebro e incapacitanos. Mata esse medo já!

Helder Ribau disse...

Gosto muito do blog :)... vai fazer-me companhia a partir de agora :)

Beijoca

Conceição Paulino disse...

continuo a passar por cá esperando k avida normalizes. Beijos ternos . Muita luz e paz para ti e ao teu redor.