dezembro 02, 2005

Não te fotografei a tempo...
Lisboa apaga o passado entre taipais modernos e túneis a aliciar a derrocada. Finge esconder as mágoas através de mentiras modernas e cada vez menos luzes de Natal. Esconde a sujidade nos vidros espelhados das avenidas que destrói. Lisboa não se esgota, na ânsia de vestir-se para um baile de máscaras eterno.
Naquela esquina - sim... essa - ergue-se impunemente um hotel, novinho em folha, sobre o meu passado. Demoliram o velho edifício e o hotel ergue-se imenso e arrogante sempre que faço a curva.
Diz-me Lisboa... Quem és? Que te fizeram para matares assim as memórias dos em ti habitaram, dos que pelas tuas artérias deambularam, amaram, cresceram? Afastaste-me sem mágoa mas não te esqueço.
Amo-te cidade minha, mas tiras-me as forças, tiras-me o ar do peito, deixas-me abandonada entre os sem-abrigo e o desespero que te habita as noites e se oculta de dia no olhar indiferente que vigora? Perdura no temor de amar-te... o temor do desmoronamento de cada metro quadrado de vida, recordações e sorrisos. Olho-te daqui e escorre uma lágrima. Não te fotografei a tempo.

13 comentários:

Daniel Aladiah disse...

Querida Ana
A memória duma Lisboa que era tua serve para dar significado a essa lágrima, mas nada fica como era, nunca... tudo anda muito depressa, apesar de nós acharmos que não, até que voltamos ao sítio e encontramos a paisagem que dará significado a outras lágrimas...
Um beijo
Daniel

Nuno disse...

Muito bom o texto! :) Como ainda te lembravas dele é que eu não sei... :P

E gostei muito do que fizeste à foto!

Kisses!

wind disse...

Texto muito bom e defacto parecido com o que sinto também. Obrigada pelos parabéns:) bjs

BlueShell disse...

gostei imenso.
BShell

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Olá Ana,

Eu sou nortenha, mas adoro Lisboa, mas na verdade eu sp que lá vou limito-me a aproveitar o que de bom ela me dá. Agora lendo o teu texto, parei um pouco e percebi qta razão tu tens para falares assim. Belissimo texto!
Beijo da Lina/Mar revolto

mfc disse...

O sentirmo-nos desenraizados na nossa própria terra causa sofrimento... ficamos sem as nossas memórias que nos são tão precisas!

eduardo disse...

Mesmo assim, ainda há Lisboa em lugares que nunca conseguirão assassinar. Porventura, para os lados onde nasci. Onde estiveste tu ou eu. Aqueloutro amigo que nos recorda o tempo das coisas boas que tivemos.
Lisboa será sempre a fada dos contos das crianças que nasceram com uma janela virada p'ro mar.
É a minha cidade. A tua. A nossa vida.

GNM disse...

Eu também moro em Sintra, mas sinto que Lisboa é a Minha cidade!
Talvez por passar lá os meus dias há muito tempo...

Bonito texto.

Desejo-te um excelente resto de Domingo...

Nilson Barcelli disse...

És tu e o Ribeiro Teles...
Já o procuraste...?
Toda a gente se está a marimbar para Lisboa. Que decide quer meter uns cobres ao bolso (ou numa conta da Suíça) ou ganhar eleições. Mas também dá uma ajuda aos amigos...~
Enfim, quando toda a gente destrói, o que estavas à espera que fizessem de Lisboa?
Mesmo assim ainda tem uns bocadinhos interessantes para mostrar aos turistas...
Muito a sério (desculpa a brincadeira inicial), gostei do teu texto. só lamento é que se substituimos a palavra Lisboa por outra cidade qualquer, também é válido.
Beijinhos. Cumprimentos ao Ribeiro Teles.

Thiago Forrest Gump disse...

Um dia irei conhecer a Europa. ;)

agua_quente disse...

Compreendo-te mas acho que as cidades, como as pessoas, têm que se ir modificando para manter alguma essência. E Lisboa ainda é mágica em tantos locais! E outros vão aparecendo. Disto se excluem claro os óbvios atentados ao bom senso e ao bom gosto.
Beijos

Graca Neves - mgbon disse...

Apesar do correr desenfreado das máquinas devastadoras da cidade e dos monstros com que a vão vestindo de novo, a nossa Lisboa, a que cada um viveu, continua lá. Essa ninguém corromperá.

Anónimo disse...

também amo Lisboa...
mas tb sei que ela é tb assim...

e silencio-me agr em reverência pelas tuas memórias demolidas...

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