março 21, 2005

Não se pode voltar atrás...

Detesto quando o tempo galopa sobre mim e me torna inexistente. Detesto esse tempo desperdiçado, os sonhos por cumprir. As horas, os minutos, os segundos gastos no nada, no vazio. E tanto de mim por ser. Detesto o que me rodeia nesses momentos. Tanta beleza, e eu, sem conseguir atingi-la. Não consigo tocar nada do que me diziam ser meu por direito. Olho em volta e apercebo-me de cada erro cometido, e sinto a inércia de tudo o que se torna impossível ou utópico.

Recuso-me a chorar, mesmo quando em cada uma das paredes desta casa, pinceladas da antiga pintura se tornam visíveis. Esta minha casa demasiado temporária, que vejo esbater-se perante o meu olhar atordoado. Evito recordações. Recuso viver de novo tudo o que já foi vivido. Prefiro, sem dúvida, e mais uma vez, avançar sobre o futuro, quase às cegas. Conheço-me, e sei o quanto que me torno incansável na busca das tintas com que esconderei tudo o que for demasiado real.

Sinto a solidão, essa dor imensa dos que se tornam incapazes de voltar atrás, dos que de um trago se recusam a aceitar como verdadeiras todas as convicções que a realidade os fez aceitar até então. A solidão das decisões inexoráveis.

Desconheço certezas. Já não estudo para me formar, namoro para casar ou sequer trabalho por um ordenado certo. Todos os contornos do real se tornaram estranhamente indefinidos mas no entanto, mais do que nunca, acredito no direito de retomar o caminho que um dia abandonei, e afasto-me do que se supõe ser correcto. Mas nos torna insanos.

3 comentários:

João Mãos de Tesoura disse...

Como diz o poeta "onde há escolhas há sofrimento!"
Boa Páscoa!

Raquel Vasconcelos disse...

Só posso agradecer Fernando :)

Tão só, um Pai disse...

Ólá, não me lembro de ter passado por cá. Desculpa. Passo a visitar-te, se deixares. Fica aqui um bocadinho, sobre o tempo, e o estar. Bêjos.

"Amar

Há dias, assim. De gostar. Estar, só, abandonar-me. Sem ir, sem destino, ou chegar. Só, por estar, não olhar, não pensar. Apenas sentir-me, devagar, muito, muito devagarinho. Sem chorar. E amar-me, assim, tanto, de mansinho."

Manhãzinha, Domingo, 20 de Fevereiro de 2005.