julho 01, 2004

A ti, que nunca existirás...
amo-te profundamente.


Procuro-te no tempo.
Detesto mortes rápidas
quero renunciar lentamente
ao mundo que me rodeia.
Despedir-me de ti.
Acompanhar-te ao meu velório,
ao meu enterro,
ficar ombro a ombro com a tua dor.
Só assim tenho a certeza de ter-te dito tudo
que em vida me neguei sempre confessar.

Reparo nas lágrimas aprisionadas
por entre as tuas pestanas.
Ficam mais belas ainda, assim.
Tenho a certeza que me observas
através dessas gotículas de dor.
Prende-se-me a voz por te dizer adeus.
É por isso que os mortos não falam...

Terás saudades minhas.
E eu? Eu sentirei saudades de demasiados.
Entendes? Entendes porque não consigo falar,
porque nem um sussurro me sai para te acalmar a dor?
A minha também é imensa.
Vivi o passado e neste momento...
ainda sinto um desejo ardente de futuros.

Vejo a terra cair sobre mim.
Não está escuro,
as minhas lágrimas prenderam-se nas tuas.
Muito de mim está em ti, meu filho,
e muito de ti estará em mim...
Quando fores apenas um sopro
da minha passagem por este mundo.
E ainda que nunca te tenha gerado,
amo-te profundamente.

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