junho 30, 2004

Sabes... Comtemplava montras...

Gostava de ter-te explicado a tempo porque caminhava pelas ruas até tarde. Porque me recusava a apressar o passo. Porque desligava o telemóvel.

Sabes... Contemplava montras.

Era como se fossem a minha última paisagem, o meu último reduto. Perdia-me nos detalhes e dava-me até ao trabalho de as classificar, melhores... piores.

Mergulhava depois nas montras mágicas das lojas de decoração, onde sempre existiu lugar para mim. Observava os confortáveis cadeirões, falsamente envelhecidos, e sentava-me num deles. Abria a luz suave de um candeeiro e agarrava numa revista ali deixada para que tudo parecesse mais verdadeiro. Tinha ainda tempo para ler um pouco.

Depois... O sol lançava um raio certeiro por entre as nuvens cinzentas desses invernos sem nome e acordava-me da minha ilusão. Observava de novo os cadeirões, o candeeiro, a revista. E entre mim e eles, o vidro sujo da montra, a minha vida de sempre, e ainda eu mesma a atrasar o passo que me levaria até ti...

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