outubro 16, 2005

Cansado de ser arrastado de loja em loja, sento-me num dos sofás a ouvir o som do piano que se mistura com o ruído de fundo das famílias que se passeiam pelo centro comercial, e a quem a banalidade dos fins-de-semana as faz sentir-se confortáveis, certinhas nos seus mundos regidos por compassos sem novidade.

A melodia do piano acalma-me o desejo de a agarrar, de a proibir de ser como é. Como sempre, deixo-a desgastar-se em devaneios com que não concordo. Aguardo pacientemente que chegue, atafulhada de sacos, embrulhos e fantasias.
Depois, dou-lhe a mão, e dirigimo-nos a Sintra. Existem estradas que não exigem mapas ou que se percorrem sem se verbalizar os porquês e esta é uma delas.

Amo-te, digo-lhe. Amo-te incondicionalmente, com os teus inúmeros sacos, saias, sapatos e malas e sonhos. E amo-te ainda mais assim, sentados na Periquita, a comer um travesseiro quentinho, com recheio de ovo e a sentir o calor da tua mão.
Amo-te, sussurra-me. E pelo brilho no olhar guloso tenho a certeza que sim. A magia visceral de Sintra não lhe permitiria mentir-me.

21 comentários:

Daniel Aladiah disse...

Querida Ana
Como sempre, os teus textos travestidos deixam-nas o sabor do teu olhar, mas do outro lado de ti...
Um beijo
Daniel

Lua disse...

Bom dia Aninhas!
Não imaginas como o teu texto me levou para a Sintra encantada da minha infância.
Tem uma óptima semana~!
Beijinhos

JMTeles da Silva disse...

Sintra é mágica para mim. E o teu texto prosaicamente poético.
Ai os travesseiros...
Bjinhos

Daniel Aladiah disse...

Mmmmm, ela entrou noutra loja.
Decidi terminar de vez com esta peregrinação que me deixava sempre de rastos. Com todo o cuidado, armo o tripé e começo a montar a carabina. Sei que tenho tempo para tudo. testo a mira telescópica e aperto o silenciador. Uma folha amarela duma planta distante ser ve para ajustar a pontaria. Num único tiro, ela é cortada pelo pedúnculo. Bom, está tudo ok.
Ele sai, aponto....
Quando dei por mim, tinha corrido para ela, pegando-lhe ao colo e fugindo dali. Gritas, calo-te a boca com um beijo e digo-te:
- Não imaginas o que te poderia ter acontecido... a tua última compra.
Ela sorri, enquanto brinca com os cantos da minha boca... ;)

Nilson Barcelli disse...

Gostei do texto.
Porque é bem escrito.
Porque não gosto de centros comerciais.
Compras? Nem vê-las. Só quando não há alternativa...
Porque gostei de recordar Sintra.
Mesmo não apreciando os travesseirinhos.

PS: Não sabia que havia uma boca idêntica à tua, ou antes, já sabia mas tinha-me esquecido.

Beijinhos especiais para ti

agua_quente disse...

Um texto em que questionas uma série de questões do dia a dia. A ilusão/consumismo versus o ambiente idílico e mágico de Sintra (mesmo ou também com os travesseiros). Dois olhares diferentes sobre a vida que ali se encontram. Durante quanto tempo? :)
Beijos

mfc disse...

Um leve toque, uma piscadela de olho, um sorriso, um encostar... nem é preciso dizer mais nada para nos sentirmos bem!

maria disse...

Fizeste-me recuar uns anos em que passeva pela humidade de Sintra e me aquecia na Periquita com os tais docitos. Era um percurso quase obrigatório para o amor.

Menina Marota disse...

Trouxeste-me à memória recordações de uma época, sempre presente em mim: a minha infância. O meu primeiro apaixonado...

Um abraço terno de boa noite ;)

Su disse...

fizeste-me recordar
amei ler-te
jocas maradas
(su)

Å®t Øf £övë disse...

Raquel,
Essa é a imagem do verdadeiro programa de fds.
A periquita... bela escolha... hummmmm
Boa semana.
bjs.

Conceição Paulino disse...

os contrastes: O "Shóppingue" e o k representa e....SINTRA. Mágico lugar, portal para outras (nosss) dimensões...Bjoca doce e muita luz, amiga (os pa´ssaros k voaram não dizem nada?)

Tão só, um Pai disse...

... Sintra apazigua as zangas e dá guarida aos malandros. Desde D. Manuel I, ao que se sabe. Talvez seja o espírito dele que atrai as moças ao seu encanto.

Indibiduo disse...

Já lá estive várias vezes, e... nada???

Anónimo disse...

Ora, como tudo é-me tão familiar, só com uma diferença, que em vez de ser apenas uma a arrastar-me para dentro das lojas são quatro a faze-lo, em contra partida sussurro ao ouvido de cada uma dizendo-lhes: Amo-te tanto! E os dias vão passando a vê-los crescer (só alguns), questionando-me constantemente, como será o mundo quando forem adultos? Será que ainda é assim as famílias?.. Texto bem presente, para se poder sentar num sofá a ouvir o piano tocar, só pode ser no Fórum do Saldanha às 18 horas. :)

Beijos

Unknown disse...

são essas as lojas dos sonhos...que nos venddem melodias.

GNM disse...

Que palavras cheias que carinho...

O teu blog está bem quentinho! Visitar-te é como encontrar um oasis de luz no meio da noite escura!


P.S: Adoro a musica...

Rui disse...

Tenho de ir urgentemente a Sintra e à Piriquita.

Anna^ disse...

Esta tua facilidade em te personificares num "outro" qualquer,fascina-me!
Amor incondicional aguenta até as "secas" nos "shópingues" desde que o términus seja a paz de Sintra!
Gostei...como sempre :)

bjokas e fica bem ":o)

Eclipse disse...

Gosto de Sintra,
Traz-me recordações.
E gosto do som do piano... ;)

Abraços

gato_escaldado disse...

centro comercial com piano ao centro. a música a que temos direito? gostei da visita sintra. guloso por travesseiros e... sacos de compras. rss. beijos