julho 24, 2005

Secção: Opinião

Desemprego e/ou o desespero

"Centro de emprego" - Instituto de emprego e formação profissional - não é mais do que um nome e provavelmente se lhe chamassem de "centro de desempregados", honraria melhor o apelido. O semblante dos que chegam demonstra bem o que vai na alma de cada. A derrota inunda o ambiente ainda antes de serem dadas as informações necessárias para que os formulários fiquem completos. E será que ficam? É-se reduzido, à pressa, a um código identificativo retirado de uma listagem de profissões sempre desactualizada.

Dos vários - ou nenhuns - empregos à disposição, um dos mais recorrentes é o de "coveiro". Mas por ali, as pessoas aparentam já ter assistido ao próprio enterro e pouca ou nenhuma vontade de enterrar mais mortos. Vive-se um período em que entrar no "Instituto de emprego e formação profissional" apenas significa estar desempregado. A sala enche-se diariamente de um desânimo depressivo, sem dó nem piedade para os que entram e para os que já lá estão. Toda gente se mantém, no entanto, atenta à numeração que se sucede em visores electrónicos - algo se modernizou - que lhes indica quando
chegará a sua vez. Só que já chegou. Já receberam a carta de despedimento, o já "não precisa de vir amanhã", o já "não precisamos mais de si". Já se reuniram com o rosto sombrio da incredulidade e insegurança que os perseguirá durante meses. Já foram facilmente descartados, acusados, pisados ou anulados. Muitos foram reduzidos a emoções caóticas que ainda não sabem gerir.

Ir ao "centro de emprego" é um acto que se torna compulsivo após a morte de uma etapa da vida profissional. Não há fuga. Tem que se enfrentar toda essa burocracia mesmo que ainda não tenha sido possível assimilar a situação. Por isso quando ali chegam ainda tentam disfarçar. Mas fingem tão mal que é palpável a indiferença que aparentam perante o óbvio que todos partilham, o medo. Os números passam. Vão enrolando ou dobrando, vezes sem conta, a senha que lhes calhou. Bem vestidos, mal vestidos, assim-assim... Mães com crianças. De todas as raças, de todas as idades, de todos os credos.

E desses, raros são os que reparam numa outra área emocional, reservada aos "veteranos" que aguardam sem reacção por mais uma reunião - ao serem chamados pelos administrativos do centro, assemelham-se a um rebanho cordato - em que lhes será demonstrado pela terceira ou quarta vez que um desempregado de longa duração "não desconta para a segurança social" e que isso "é uma mais valia para a empresa empregadora". Não fosse a empresa empregadora preferir recibos verdes, já ter gente a receber parte do ordenado "por fora" e a preencher falsas "ajudas de custo" e não precisar desse género de mais valias. Não fosse já um dado adquirido que no "centro de emprego" se tem que comparecer e o resto são papéis para arquivo.



Raquel Vasconcelos
in Voz das Beiras, um jornal de Viseu


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Em Viseu
Petição POR UM MUSEU DE TODOS E PARA TODOS
"Na sequência de muitos actos deploráveis da actual Directora do Museu Grão Vasco, foi criado um movimento cívico, a que foi dado o nome de "AMARTE". Este Movimento propõe-se levar ao conhecimento do Ministério da Cultura e do Senhor Presidente do IPM(Instituto Português de Museus) esses actos, recolhendo nesta altura assinaturas." in InApto

14 comentários:

Anónimo disse...

É um verdadeiro pesadelo, quando se não vai apenas para pedir o subsídio (e já se está a trabalhar noutro lado - 'em negro' - ou se se pretende perfazer deste modo tempo que falta para a reforma).

Mais que pesadelo, é humilhante.
Como vamos dar a volta a isto, Raquel?

//(~_~)\\ um beijo da Titas

Anónimo disse...

passei pa deixar um beijinho :)**

Menina Marota disse...

Infelizmente, este artigo está certo a 100%!

Quanto à petição, já a assinei... sou o nº. 62...

Um abraço ;)

Raquel Vasconcelos disse...

Como vamos dar a volta a isto, Raquel?


Titas... soubesse eu...

Mitsou disse...

Parabéns pela crónica, querida. Beijoquinhas doces e agora vou continuar a ler, que estou atrasadíssima nas leituras, ai, ai!

Nilson Barcelli disse...

Nunca estive num centro de emprego mas, pela tua descrição, começo a imaginar.
E a perceber quando uma empresa pede serralheiros mandam escriturários, etc. (já tive essa experiência e vi-me grego - como sabia de alguns candidadtos até lhes indiquei os nomes inscritos para lhes facilitar a busca).
Por isso, sendo lamentável o que dizes acontecer nos centros de emprego, não é menos lamentável que eles também não ajudem as empresas a encontrar as pessoas com o perfil requerido.
Beijinhos

Daniel Aladiah disse...

Querida Ana Raquel
É mais belíssimo serviço público, como muitos outros deste país.
Um beijo
Daniel

Conceição Paulino disse...

alias (muito) bem a sensibilidade com a capacidade de análise neste teu centro de emprego....Nunca passei como "cliente", mas fiz, profissionalmente, algumas reuniões e ficava smp com este mm gosto amargo na boca ao olhar para tudo aquilo, para as pessoas e para as respostas institucionais (inexistentes, afinal). Bj grande

Anónimo disse...

Que o tempo seja de Primavera em flor, para que o sorriso seja uma constante na tua vida, uma vida sem sorriso é como uma noite de inverno. Raquel me perdoa, porque só desejar-te boa semana achei impessoal, este sonhar faz parte da minha vida e gostaria de transportar para as outras pessoas este sonhar com o sonho. Sê feliz. zezinho

Mitsou disse...

Raquel, venho deixar um beijinho de boa noite antes que o pc "pife". Parece que não gostou da nova casa e anda a aquecer muito. De vez em quando tenho de desligá-lo, tadito! Joquinhas :))

Indibiduo disse...

Podemos chamar centro da inconpetência aliada a ignorância da função pública!

Já agora, podemos chamar Gestão Familiar e Amigos Lda.

Anónimo disse...

//(~_~)\\ um beijo da Titas

Afrodite disse...

§(~_~)§ mais um da Afrodite

Anónimo disse...

kerida Raquel
as palavras do meu amigo Nilson
justificam muito bem
o teu texto.
é pena que dessa forma
tudo se passe...
beijux létinha.