dezembro 06, 2004

Contei-te que já sei usar o microfone?

Não, provavelmente achei que não valia a pena. A minha voz ouvir-se-ia mal.

Metamorfoseaste-te em mais um dos muitos silêncios que transformo em garatujas nas folhas rasgadas de um caderno de infância e que agrafo depois a um diário a que retomo sempre que posso...

Anoto com rigor as lembranças nas linhas azuis mal impressas de folhas antigas. Transformo-te sempre em palavras. Prefiro que retomes a única forma que afinal sempre tiveste... Palavras. Apenas palavras, já que nunca poderei trazer-te para o real...

No meu diário existe um espaço guardado para colocar a tua fotografia. Nunca o farei. Não tive tempo de a imprimir e perdeu-se. Reside apenas na minha lembrança. O tempo torná-la-á desmaiada, matá-la-á. Talvez perdure durante alguns anos, a sensação que me trouxe o teu sorriso... depois serás transparente.

Ter-te-ão, no entanto, nas linhas que escrevo. Tenho-te nas pontas dos dedos, nas teclas que escolho - teclas modernas que substituem o som tranquilo do lápis - que tornam possível transpor, não para o papel, mas para os circuitos de uma máquina, com a rapidez do pensamento tudo o que ainda sou e sinto para que não morra sem que saibam que tu e eu existimos. Ficaremos no éter e tudo farei para que esse amor não se torne transparente...


Devo-te a capacidade de escrever mais que dez linhas sem medo de mim própria. Ser-te-ei sempre grata.

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